Autor:  alexks

Publicado em: 07-10-2025

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Para Além da Sobrevivência: O Desafio de Educar Refugiados e o Caminho da Inclusão Pavimentado pela Educação Sem Fronteiras.




Os refugiados enfrentam um conjunto complexo de desafios sistêmicos e pessoais para acessar e dar continuidade à educação no Brasil. Essas barreiras dificultam tanto a reinserção na vida acadêmica quanto o desenvolvimento de habilidades profissionais, comprometendo sua integração socioeconômica.

1. Barreiras Linguísticas e Culturais
O primeiro e mais imediato obstáculo é o idioma.
Português como Barreira: A falta de proficiência no português impede a plena compreensão das aulas, livros didáticos e avaliações. Mesmo refugiados com alto nível de escolaridade se veem incapazes de prosseguir em cursos de ensino médio ou superior sem o domínio do idioma.
Dificuldade de Acesso a Cursos Especializados: Embora existam iniciativas (como o PLAC, da ONG Educação Sem Fronteiras), a oferta de cursos de português de qualidade, gratuitos e focados em vocabulário acadêmico/técnico, é insuficiente para a demanda.

2. Obstáculos Burocráticos e Documentais (Revalidação de Diplomas)
A comprovação da trajetória educacional anterior é um processo dispendioso e demorado.
Ausência de Documentos: Muitos refugiados deixam seus países em situações de emergência, sem tempo para obter seus diplomas, históricos escolares ou ementas de disciplinas. A comprovação de estudos se torna quase impossível.
Revalidação Complexa e Cara: O processo de revalidação de diplomas estrangeiros (ensino superior e técnico) no Brasil é notoriamente lento, caro e burocrático. As universidades públicas, responsáveis pelo processo, exigem documentação detalhada e podem cobrar taxas elevadas, inacessíveis para a maioria dos refugiados.
Inequivalência Curricular: Muitas vezes, mesmo com os documentos, há dificuldades em reconhecer a equivalência de currículos estrangeiros, forçando o refugiado a cursar disciplinas ou até anos inteiros já concluídos.

3. Vulnerabilidade Socioeconômica e a Necessidade de Sobrevivência
A educação frequentemente é adiada em favor da subsistência imediata.
Prioridade de Renda: A necessidade urgente de trabalho para sustento próprio e familiar (muitas vezes, com remessas para familiares no país de origem) impede o refugiado de dedicar tempo integral aos estudos. O tempo gasto nas aulas é um tempo não gasto no trabalho.
Falta de Suporte Financeiro: A ausência de bolsas de estudo, auxílio-moradia ou auxílio-transporte específicos para refugiados no ensino superior dificulta a permanência mesmo para aqueles que conseguem a aprovação em universidades.

4. Desafios de Inserção no Ensino Superior e Mercado de Trabalho
Mesmo após superarem as barreiras iniciais, novos problemas surgem.
Acesso ao Vestibular: A participação em exames como o ENEM e vestibulares estaduais requer preparo que muitos não conseguem devido ao tempo limitado e ao foco na sobrevivência. A falta de programas de cotas específicas para refugiados também é um desafio.
Preconceito e Trauma: Muitos estudantes enfrentam o preconceito e a discriminação nas instituições de ensino. Além disso, o trauma psicológico resultante da guerra, perseguição ou da experiência de deslocamento afeta a concentração, o desempenho e a saúde mental, elementos cruciais para o aprendizado.
Conflito de Geração: Jovens refugiados muitas vezes precisam adiar seus estudos para assumir papéis de provedores da família, levando a um significativo "atraso" em relação a seus pares brasileiros.

5. Falta de Dados e Políticas Públicas Integradas
A dificuldade em mapear e quantificar o problema impede a criação de políticas eficazes.
Vácuo de Informação: Há uma carência de dados detalhados e atualizados sobre o nível de escolaridade, as qualificações e as necessidades educacionais específicas dos refugiados no Brasil.
Desarticulação Governamental: A integração entre os órgãos federais (que cuidam do reconhecimento da condição de refugiado) e as esferas estaduais/municipais (responsáveis pela educação básica e superior) é frágil, resultando em políticas fragmentadas e insuficientes.

EDUCAÇÃO SEM FRONTEIRAS
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A Educação Sem Fronteiras (ESF) é uma associação sem fins lucrativos, fundada em março de 2020, que se estabeleceu como a primeira associação de educação para imigrantes e refugiados no Brasil.

Sua missão é apoiar recomeços e ressignificar vidas por meio da educação, atuando como resposta ao crescente fluxo de deslocamentos forçados para o país.

Estrutura e Atuação
A ESF oferece programas educacionais com metodologia adaptada, visando facilitar a integração e o desenvolvimento profissional e acadêmico dos imigrantes e pessoas em contexto de refúgio.

Principais Projetos
Travessias: Curso preparatório para o ENEM e vestibulares, com o objetivo de inserir os beneficiários no ensino superior brasileiro.

Curso de Português (PLAC): Oferece cursos de português emergenciais e regulares, nas modalidades presencial (na sede em São Paulo) e online. O domínio do idioma é considerado essencial para o sucesso na integração.

Geração Sem Fronteiras: Programa focado em cursos profissionalizantes.

Tirando de Letra: Projeto que visa aprofundar a alfabetização e o letramento.

Festival Gira Mundo: Evento cultural que celebra e promove as culturas migrantes.

Foco e Modalidades
A associação aceita a participação de qualquer imigrante ou refugiado, sem cobrança de taxas.

Oferece orientação para a equivalência e revalidação de estudos (diplomas de ensino fundamental, médio e superior) realizados no exterior.

As aulas do preparatório para o ENEM (Travessias) são virtuais e assíncronas (gravadas), enquanto o curso de português pode ser online (em tempo real) ou presencial.

Em 2023, a ESF assistiu a 1481 beneficiários, demonstrando um impacto significativo na área de educação e acolhimento de migrantes no Brasil.






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